Por que usa-se fumo na Umbanda?

Desde que tive minha iniciação na Umbanda nos idos de 2004, escuto cotidianamente de quem não conhece a religião:

“Vixe maria, na Umbanda tem aqueles espíritos atrasados que gostam de fumar né?!”

(“Vixe” é expressão muito antiga, remonta ao início do século III a.C. e, ao contrário do que muita gente pensa, não nasceu em Fortaleza/CE. Não.
Vem do latim “vix”, tendo derivado no começo do século II para “veesh” nos Países Baixos, depois conhecidos como Holanda, e há também registros de “vish” em textos gálatas descobertos na Turquia mais exatamente na Capadócia datados provavelmente do primeiro século da era cristã. No latim original, a palavra “vix” significa “mal”, e normalmente vinha acompanhada de “ibi”, formando a expressão “vix ibi”, ou “mal aí”. Sabe-se que era muito usada na Roma antiga sempre que jovens alcoolizados derrubavam canecas de vinho em seus colegas durante bebedeiras ditas “homéricas” nas tavernas da Via Appia — Homero foi um notório manguaceiro grego que ficou conhecido por encher a cara e nunca passar mal sem recorrer ao Engov, tendo até escrito a “Ilíada” e “Odisseia” em estado precário de consciência, segundo consta. “Vix ibi” transformou-se rapidamente em “vish be” entre os gálatas no sentido de “ser mal”, o que era dito em referência a crianças traquinas que devido ao seu comportamento genioso “seriam más” no futuro, donde resultariam em bons guerreiros. A derivação para “veesh” no holandês data do fim do século XIII, quando uma grande inundação matou mais de 50 mil pessoas e alguém, ao notar o estrago e o tamanho da tragédia, exclamou: “Veesh”. Pronto! Pegou. Tanto que quando os holandeses chegaram ao Brasil para estabelecer sua colônia ultramarina na Paraíba, Pernambuco e no Rio Grande do Norte diziam “veesh” o tempo inteiro, a cada descoberta ou índia que encontravam. De “veesh” para “vixe”, numa simplificação para o português, foi um passo. Maria sinceramente eu não sei quem é.)

E antes que alguém diga: Vixe Pai Alíssio, cadê o esclarecimento do fumo?

O fumo é vegetal que traz os elementos água e terra, em sua composição, e os elementos ar e fogo quando utilizado na defumação. Conjuga, portanto, quando usado pelas entidades de Umbanda, os quatro elementos básicos – água, terra, fogo, ar -, além do elemento vegetal nos trabalhos de magia. O fumo é utilizado como meio de descarrego, agindo sobre os chacras das pessoas. É utilizado como componente para defumação, onde conjuga o fogo e a fumaça para a destruição dos campos magnéticos negativos, vinculados tanto à obsessões quanto à demandas realizadas contra quem quer que seja.

O fumo tem suas características vegetais, tendo através do seu processo de desenvolvimento na natureza aglutinando as mais diversas energias e substâncias – sais minerais, hidrogênio, oxigênio, fósforo, potássio, nitrogênio, vitaminais – do solo onde foi cultivado e do meio ambiente, além da absorção da energia solar e lunar, a chuva, os ventos e razão pela qual condensa forte carga energética de impregnações etéreas que libera durante a sua queima.

Assim, o que as entidades da Umbanda fazem é utilizarem ervas, juntamente com os elementos água, fogo e ar para realizarem suas magias e defumações, desestruturando larvas astrais, miasmas e desagregando energias negativas e danosas à aura de todos.

Preste atenção na atitude das entidades incorporadas, veja que enquanto estas fumam, estão constantemente jogando baforadas da fumaça de seu cachimbo, charuto, ou cigarro sobre aquele que com eles se consulta. Não tragam a fumaça, apenas enchem a boca com a fumaça e a expelem sobre o consulente ou para o ar.
Nessa hora está sendo realizado verdadeiro passe, onde a defumação se conjuga com o sopro para realizar a limpeza energética da aura e do perispírito da pessoa.

A entidade incorporada quando realiza o sopro da fumaça de seu cachimbo, charuto, ou cigarro, dando suas baforadas nos consulentes, cria com isso as condições, tanto no plano físico quanto no espiritual, a realização da magia da Umbanda, tudo sob o aval dos espíritos de luz e dos Orixás. Só o sopro em si carrega efeitos terapêuticos e espirituais poderosos, mas quando aliados à erva tem seu efeito potencializado, gerando resultados positivos como se observam nos terreiros de Umbanda.

No contato permanente com as entidades que incorporam na Umbanda, passa-se a perceber, inclusive, uma preocupação com o uso indiscriminado de fumo ou de cigarros que são comercializados, e seus conselhos para evitarem que seus médiuns tenham seu corpo prejudicado pelo uso de tais ferramentas.

A dinâmica, portanto, deve ser entendida como um todo. Alia-se, no trabalho de Umbanda, o fumo, a energia proveniente das entidades e espíritos superiores que orientam os trabalhos, a energia presente na própria natureza através do trabalho dos elementais, bem como o ectoplasma retirado dos médiuns durante os trabalhos mediúnicos, possibilitando a cura do consulente necessitado de ajuda.

Permita-se ser feliz. Conheça a Umbanda!
.´. Ashé

 

Por Alíssio Tully – C.E.U. Estrela Guia

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